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quarta-feira, 12 de junho de 2013

mais explicativo e certo impossível.

Texto Marcelo Campos - Quanta Academia de Artes

Escrevi um texto sobre algumas coisas que tenho ouvido aqui na Quanta.. Essas coisas não são de hoje, e achei que queria falar sobre isso... Quem tiver paciência de ler, o texto tá aí em baixo..

Outro dia algumas pessoas vieram à Quanta preocupados com suas carreiras de artista. A principal preocupação era se eles “se dariam bem” em suas carreiras, porque se existisse a possibilidade de eles “não se darem bem, nem começariam”.

Eles queriam entrar no mercado internacional de quadrinhos, ou seja, trabalhar com editoras como Marvel e DC.

Expliquei a eles que não existe nenhuma garantia de uma carreira dar ou não dar certo. Que tudo pode acontecer. Tudo pode dar certo, tudo pode dar errado. Mas eles só saberiam se tentassem. O problema, segundo eles, é que “tentar” significa estudar muito, durante muito tempo, aprimorar o trabalho, passar anos estudando para que ele se torne “bom” e possa competir no mercado... “E se nada der certo? Vou jogar todo esse tempo fora? No lixo?” foi a pergunta deles. Minha resposta foi a de que cada pessoa vê o cenário que quer ver. Ou, como diz o mestre Jedi Qui Gon Jin; “seu foco será sua realidade”. Se ele vê esse esforço como algo que pode não significar absolutamente nada, tudo bem... É uma maneira de ver a coisa. Uma maneira pobre, do meu ponto de vista, mas não deixa de ser uma maneira. E que se eles pensavam assim, era mesmo melhor nem começarem.

Acontece que eles estavam aqui porque tinham interesse em se matricularem em um de nossos cursos, o de quadrinhos, e eles ficaram meio espantados com minha resposta, porque na cabeça deles eu estava “jogando alunos fora”. De novo minha resposta foi a mesmo: que cada pessoa vê o cenário que quer ver.

Acho que uma conversa como essa mostra muito de como algumas pessoas estão pensando. É claro que a preocupação deles é justa, é verdadeira. Todo mundo quer se dar bem na área em que trabalha. Todo mundo quer que tudo dê certo. Mas eu penso que nada na vida é certo. Em qualquer coisa na vida as coisas podem dar certo ou podem dar errado. Um relacionamento amoroso, por exemplo, pode dar certo ou errado. Um emprego pode dar certo ou errado... e por aí vai. Pensando assim, é melhor não começar relacionamento amoroso nenhum. Pensando assim, é melhor não começar a fazer nada. Fique em casa. Feche a janela, a porta... pra que perder tempo vendo um filme? E se for ruim?

Voltando ao ponto onde eles falaram que eu estava jogando alunos fora... Pra que fazer um curso de quadrinhos, ilustração, pintura, seja o que for, se de repente ele não conseguir ter sucesso na carreira? Minha resposta foi a mesma das outras. No fim, penso que o que define tudo, é a pessoa decidir o que quer. Se ela quer ou não entrar nisso. Se ela quer apostar no seu trabalho, no seu talento ou não. “Se não é o que vocês querem, é melhor vocês nem começarem”. E é o que acho. Se você não quer tentar, pra que vir pra Quanta ou pra qualquer outra escola estudar? Qual o sentido? Fica em casa! Você não pega transito, não paga nada pra gente... porque a gente cobra pra ensinar. E é isso.

Aí veio a pérola... “e se um dia meu estilo sair de moda?”.

Impossível não rir.. “e se um dia meu estilo sair de moda?”...

Harrison Ford, Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger.. esses caras já entupiram o cinema de gente. Colocar os nomes deles em um cartaz era certeza de grande bilheteria. Hoje já não é mais assim. Eles teem um público, mas não fazem mais aquelas bilheterias absurdas. Algumas bandas dos anos 1980 lotavam estádios e hoje tem um público bacana, fiel, mas não lotam mais estádios, não entram mais no “top 10 da MTV”. Do mesmo modo, artistas de quadrinhos já foram deuses pros fãs antes. Não são mais hoje. Sempre foi assim. Sempre vai ser assim. Mas isso não significa o fim das carreiras deles.

Agora, essa galera que veio aqui, já tá com o ego nas alturas antes de publicar.

Quando eu entrei na Abril, em 1986, aprendi isso bem rápido. Vi caras mais velhos, tristes porque não conseguiam mais tantos trabalhos quanto gostariam ou tinham ou precisavam. Vi também caras na maré alta, se colocando em um patamar que não existe. Vi gente começando a fazer sucessinho e também já “se achando”. Aprendi rápido que não queria entrar nesse círculo. Aprendi que tudo é passageiro, e tudo depende de como você vê as coisas... “cada pessoa vê o cenário que quer ver”. Então, quando vejo uma galera ficando famosa, chamando atenção e começando a se comportar como se estivesse acima das coisas... penso no meu amigo Artur Fujita que sempre fala que “o mundo gira”. E, embora muitos já conheçam esse ditado, até hoje não aprenderam o significado dele.

Todo artista passa por momentos difíceis. Alguns se recuperam, outros não. Alguns voltam a fazer sucesso depois de épocas complicadas em suas carreiras, outros não. E isso não pode fazer você desistir... porque senão: “é melhor nem começar”. Não se trata disso. Se trata de construir uma carreira de respeito. Se isso acontecer, o nível pode até baixar, mas você sempre terá trabalho, bons trabalhos, e vai viver bem. Bem com você e com os outros... porque , para mim, o mais importante é como você se comporta quando acha que “está por cima”. Como você age com as pessoas ao seu redor, com pessoas que apoiaram você quando você não era conhecido. Usar uma fase boa, sendo “aproveitador”, querendo chamar mais atenção do que necessário, é desespero, é medo. E isso é triste na verdade quando você vê pessoas ficando famosinhas e começando a tratar outros assim. Confiança no “próprio taco” não significa se tornar aproveitador ou arrogância. São coisas diferentes.

Bom, o que eu queria dizer, depois de tudo isso, é que na verdade não existem garantias, existe amor pelo que você faz. Existe vontade. Existe decidir o que você quer fazer da sua vida e ir em frente. Não existe arrependimento também. Você não foi obrigado a fazer nada na sua vida. Tudo o que você fez partiu de uma escolha no final das contas. Você escolhe ficar com uma pessoa em um relacionamento amoroso. Você escolhe onde e como trabalhar, onde e como quer viver. Você é uma pessoa consciente. Então não adianta mimimi. Entra na chuva ou não entra. Simples assim. Em tudo na vida. Mas se entrar, faça isso com humildade. Cuidado pra não querer “ser esperto”, principalmente com quem acreditou e te deu chances no começo.

Acredite no seu talento. Se esforce. Estude. Não pise em ninguém. Não se aproveite da criatividade de ninguém, aprenda a ser criativo. Não copie de ninguém. Não se ache acima de ninguém. Lembre que confiança não é arrogância. Respeite quem te deu oportunidades, haja com honestidade, simplicidade e humildade. Não confie que só porque você está agora num patamar alto, esse patamar vai sempre existir. Lembre-se de quem te ajudou e haja honestamente, sem tentar prejudicar o outro pra que você se dê bem. Isso é pobre. É coisa de gente sem caráter. A gente não é nada.. A gente pode ESTAR em um patamar, a gente não É esse patamar. Já vi gente muito poderosa cair. O poder não está no patamar que você está, está no que você é. E o que você é transparece em como você age.. Principalmente quando acha que está por cima... E dando poder pra uma pessoa que a gente conhece quem ela é de verdade, não é? É vendo como ela usa esse poder que você conhece a pessoa. Por isso toquei no assunto da humildade.

Lembra disso quando decidir.

É isso... Valeu pra quem conseguiu ler até aqui...

Abraço pra todo mundo,
Campos

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